sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Mouring...

Esse e-mail foi escrito no dia 17 de novembro deste ano, às 18:24 à minha amiga Emily. Ele retrata o meu espírito hoje, retrata o meu espírito de ontem e provavelmente o de amanhã...


Leiam e entendam:


Amiga,

Hoje meu mundo ruiu mais um pouco. Passei uma madrugada agitada, acordando de uma em uma hora sem folêgo e com um pouco de dor de cabeça. Na terceira vez que me acordei era hora de tomar banho para ir trabalhar... Foi ai que o mundo girou rápido demais e eu não consegui acompanhar.

Vale ressaltar que durante um desses momentos que acordei, pensei ter ouvido o telefone de casa tocar, mas deixei isso para lá. Tomei banho e quando venho para o quarto trocar de roupa minha mãe entra arrumada e diz com uma cara séria:
- Amanda, seu padrinho...
- Morreu...? - completei.

Sim amiga, ele faleceu hoje às 3 da manhã, sua respiração foi ficando cada vez mais lenta e ele fechou os olhos, ele morreu de mãos dadas com a esposa. Sentei na cama e fitei o nada por alguns momentos, lá estava eu, com uma calcinha na mão e enrrolada na toalha fitando o meu guarda-roupas quando começo a chorar... Estava em choque, ainda estou na verdade.

Nossa primeira preocupação foi com a minha avó, ela tem quase 90 anos, como ela estava, como ela reagiu?
- Eu também vou, mãe? - perguntei ainda fora de órbita.
- Sim, você vai. - respondeu.
- Deixa então eu ligar para as meninas pra avisarem lá no estágio que eu não vou.

Arrumada, fomos para a casa de vovó, havia avisado a Igor sobre o ocorrido e ele ficou preocupado... Logo ele que hoje teve uma entrevista de emprego! Vovó parecia bem, parecia pois por dentro estava destruída. Ainda ouvi muitas coisas sobre mim na volta por eu não ter aceitado uma brincadeira da minha tia... Not in the mood, sabe? Me chamaram de grossa, de criar meu mundo e não deixar ninguém entrar nele e de outras coisas. Não sei o que me doía mais, ouvir essas coisas ou a morte dele.

Igor veio para cá, ver como eu estava, ele almoçou, jogou um pouco e depois teve que ir embora pois estavamos saindo para o cemitério. Eu, meu pai (com quem meu padrinho e irmão mais velho de painho havia tido problemas), minha avó e duas tias minhas.
Lá minha madrinha olhou torto para meu pai, mas o momento não era para discussões.... Fiquei lá, firme e forte ao lado da minha avó.

Ele foi cremado, na verdade, ainda está sendo cremado nesse momento. Queria entender amiga, porque não consigo chorar em determinados momentos, só chorei mesmo quando minha madrinha falou que ela havia feito ele feliz e e que ele foi a grande paixão da vida dela.

Amiga, estou arrasada ainda... Quando olhei ele no caixão ví que aquele homem não era o mesmo que eu lembrava, estava encerado, não sei como explicar, estava diferente. Não parecia aquele homem alegre que eu me lembrava. Me disseram que ele falava de mim no hospital, o que me deu uma ponta de arrependimento por não ter ido visita-lo... Mas amiga, se eu tivesse ido alguma vez, não sei se eu teria aguentado. Falei com ele uma vez ao telefone no dia do aniversário dele e chorei bastante pois a voz dele não era aquela que eu lembrava. Eu não tinha estrutura emocional para ve-lo e muito medo dele não se sentir bem com a minha presença. Sempre que tinha tempo não tinha estrutura e quando tinha estrutura não tinha tempo.

Desculpa esse email tão extenso falando sobre esse fato, mas preciso de alguém para conversar e contar que meu pai venceu o orgulho e carregou o caixão do meu padrinho até o crematório sem medo e sem arrependimentos...

Beijos tristes amiga e obrigada por me escutar, estou torcendo por você nessa nova fase da sua vida... Torce por mim para eu ter forças agora tá?
A.

Por favor, não me escrevam comentários dizendo 'minhas condolências' ou 'meus sentimentos' pois isso me doí mais que tudo...

2 comentários:

Harry Yazawa disse...

acho que um trecho deste teu e-mail, o que vc fala sobre nao saber como seria ter ido lá ou não... Bem... Você DEVE assistir o Episodio 8 da 10ª temporada de Smallville. Você pode não gostar da série talvez, ou talvez goste. Talvez doa ao ver o episodio, mas acho que o vhs que aparece no episodio deve ser assistido por você também.

A.D.L disse...

"Me chamaram de grossa, de criar meu mundo e não deixar ninguém entrar nele e de outras coisas. Não sei o que me doía mais..." Denso, profundo, pulsante... Isso aqui só reforça a minha idéia de que bons escritores superam-se na dor.

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