domingo, 11 de abril de 2010

Um dia no Ricardo Brennand

Um dia só para mim... Apenas eu e eu mesma, sem fones de ouvido, sem celular, somente eu. As únicas coisas que me acompanharam foram minha câmera e uma agendinha pra anotar o nome das peças.


Fui ao Instituto Ricardo Brennand, meu irmão foi me levar, não posso andar 1 quilômetro e meio até chegar na guarita de entrada. Meu gasto no dia foi de 2 reais. Logo quando chego sou recebida pelo Pensador de Rodin, uma cópia, é verdade, mas já convida a pensar.


Ao entrar na pinacoteca, você se depara com arte sacra. Altares em sua maioria. Antes de entrar na exposição de Frans Post, que é permanente, resolvi olhar as esculturas que ficam na área externa. Apesar de já conhecer todas, a escultura Luta de Tigres me chamou a atenção. Os tigres lutando como se não houvesse como evitar, é a lei do mais forte, só um pode sobreviver.


Logo ao lado, separada por uma escultura, me deparo com O Beijo de Axel Poulsen, uma escultura dinamarquesa do século XX. Ela fez com que eu perdesse o fôlego, como uma pedra dura quem nem o mármore, poderia dar a leveza de um beijo? Você pode sentir o amor na imagem... Será que, um dia, nós teremos um beijo assim? 


Mais a frente, Fragilina dá as caras. Eu me identifiquei com ela, não sei porque. Não sei se foi o corpo, os cabelos ou a expressão dela, gostaria muito de saber, mas ela chama a atenção de um jeito que não entendo. Branca, toda em mármore com, aproximadamente, 1 metro e 81 centímetros, maior que eu (coisa que não é muito difícil de ser), mas leve. Passei alguns minutos admirando a mesma, não o mesmo tempo que passei olhando O Beijo, mas passei um bom tempo.


Segui vendo as outras esculturas e estátuas (é, tem uma diferença) até resolver entrar realmente na pinacoteca. Você entra e já dá de cara com o senhor Maurício de Nassau, governador de Recife na época da invasão holandesa. Imponente, com sua armadura, mas com um quase sorriso nos lábios, algo meio Monalisa. Algumas estátuas no hall de entrada eram novas pra mim. A sensação foi a Eterna Primavera de Rodin em bronze. Ela é pequena, não chega a ter 70 centímetros de altura. Mas tem um quê a mais... Algo que não sei explicar. Eterna Primavera, a época que tudo floresce, onde os amores acontecem... Primavera...


Deixei a pinacoteca por conta do meu celular, lá dentro não pegava e eu queria mandar uma mensagem urgente para uma pessoa. Já que eu estava lá fora, fui ao museu de armas brancas ou O Castelo, como é chamado. Uma construção no estilo gótico Tutor (vantagem de fazer Turismo é que você aprende um pouco de arquitetura também) onde se encontra um dos maiores acervos pessoais de armas brancas, isso inclui espadas, adagas, punhais...


Na recepção encontramos, mais uma vez, a primavera. Desta vez a Alegoria à Primavera, italiana do século XIV de Vittorio Caradossi, uma moça de longos cabelos sorrindo e nua. Chutaria que a modelo deveria ter uns 18 anos, ela é tão jovial, realmente evoca o espírito da primavera, parece que ela estava pronta pra amar. Uma hora eu estarei como ela, pronta pra me doar novamente, apesar que eu já faço isso, sim, eu amo.


Uma bela francesa, no outro nicho, nos convida a admirar suas formas. Eurera é do século XIX de Emile Boyer, ela com sua coroa e seus cabelos se movendo,  aquela coroa de louros, sua pele branca com curvas generosas... Quem não se apaixonaria por ti? Fiquei curiosa pra saber quem era essa mulher, quem foi Emile Boyer, o que inspirou... Mais tarde eu procuro. Quando a olhei, me perguntei: Quem é você?


Ainda na recepção encontro com o Orvalho da Manhã, outra francesa do século XIX. Uma mulher, também jovem, segura uma ânfora que derrama o orvalho nas plantas pela manhã. Cabelo preso ornamentado com flores, corpo curvilíneo coberto com um tecido que eu arriscaria dizer que é um linho. Meio mitológica, meio o que eu queria ser quando crescer.


Entro passando por uma fonte cheia de moedas, dessa vez não fiz o meu pedido tradicional que faço todas as vezes que vou lá, entrei logo na primeira sala. Espadas, facas para caça, armaduras, um orgão de tubos italiano. Uma arma em especial me chamou a atenção. Ela me lembrou a mão de Freddy Krugger. Tinha a lâmina, mas o punho, ah, esse sim era de se chamar a atenção. Era uma mão com um olho na sua palma, lembrava mesmo a mão de Freddy. Passei algum tempo para entender ela e até agora não sei se eu a entendi realmente.


Na sala me deparei com três esculturas que me interessei. Valquíria, a Amazona e, a que mais me chamou atenção, Os Pompeianos. Valquíria é uma deidade nórdica que escoltava os bravos guerreiros a Valhala para se encontrarem com Odin. A Amazona é auto-explicativo não? Mas Os Pompeianos, esses merecem uma atenção. No rosto da família vemos o desespero da fuga do Vesúvio, a mãe tentando proteger o filho e o pai proteger a mãe e o filho. Notem que dá pra ver os músculos do pai, a dobra do tecido... Impressionante.


Depois de sair de lá, me dirigi a sala maior, onde está as espadas com punho de ouro cravejada de diamantes. Sinceramente, elas não me chamam muito a atenção. As espadas mais simples e funcionais sim. No meio da sala vemos a Alegoria À Beleza, uma moça se embelezando. Tem melhor alegoria que essa? Acho que não. As mulheres querem parecer bonitas para os seus homens, para outras mulheres e pra elas mesmas. Não há melhor alegoria.


Passei pelas outras salas, admirei as armas hindus (acho que eram hindus por conta das inscrições nas lâminas) e a funcionalidade das adagas com armas de fogo inclusas. Nesse meio tempo, uma das voluntárias que me viu anotando e tirando foto das peças pediu que eu enviasse meu currículo para lá, quem sabe, da próxima vez que alguém que leu esse texto for lá checar tudo o que eu falei aqui não me encontrará guiando um grupo?


Voltei a pinacoteca, já havia esquecido da mensagem mesmo e o celular havia descarregado. Fui me entreter com as pinturas e depois voltaria as esculturas. Uma me deu a impressão que o pequeno homenzinho na Piazza San Marco em Veneza iria me dá um tchau e me chamar para aproveitar aquele dia de sol retratado. Se ele desse algum sinal, certamente eu entraria na tela pra viver aquele dia. Em outra parte do salão principal, existiam outras esculturas, a minha favorita é uma sem nome e nem autor. Ela é feita em mármore com bronze e retrata uma mulher com flores no seu corpo. É tão sublime, que nem sei descrever.


Existem outras peças que vale a pena um olhar atendo, vale sentar em frente aos quadros e estudar cada pincelada, cada marquinha feita pelas cerdas dos pinceis. Se eu posso dar uma dica, quando você quiser um tempo com você ou com aquela pessoa que você gosta, vá pra o Instituto Ricardo Brennand, agora, vá logo que abrir e fique lá até fechar. Acredite em mim, você não verá tudo.


E na Veneza Brasileira, 22:42

3 comentários:

Barangurte disse...

que lindo!
to precisando de um dia desses pra mim...
__________________________________
@Zumblorg
http://zumblorg.beyond-obvious.net

Anônimo disse...

Tenho uma foto d'Os Pompeianos e outras esculturas de lá, no meu álbum "Pernambuco":

http://www.flickr.com/photos/almaia/5482295899/in/set-72157622774719595/

Nadine disse...

Adorei tudo, visitei o Museu em julho do ano passado e me encantei com a cidade. Estou catalogando minhas fotografias e descobri que muitas das obras possuem uma história incrível que eu não tinha atentado antes. Tua postagem tem me ajudado bastante. Obrigada por partilhar conhecimento. Muita luz! ;)

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