sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

"Sou o Leão do Norte"


A algum tempo venho querendo escrever sobre Pernambuco, não sei bem o motivo ou da onde vem essa vontade louca de falar sobre meu estado. Deve ser porque, em algum momento do passado, perguntaram se eu realmente gosto daqui e eu parei e pensei... Até que respondi que sim, gostava daqui de verdade, e que aqui é muito bom, é só ter bons olhos.

(Pausa para ver o bloco passar)

O pernambucano é um bichinho dotado de uma mania de grandeza impressionante e também muito modesto hehehe. Nós só temos o maior carnaval do mundo com o maior bloco do mundo, O Galo da Madrugada que esse ano promete ter 1,5 milhões de pessoas, temos a maior avenida em linha reta das Américas, a Avenida Caxangá com 6km de extensão. Se você gosta de comprar e tem uma certa grana ou um bom cartão de crédito, aqui você encontra o maior shopping da América Latina, o Shopping Center Recife; mas, se você é um liso feito eu, pode optar pela maior feira livre do mundo que fica em Caruaru e é conhecida como a Feira da Sulanca, uma delícia comprar lá!

Caso você seja mais cultura, você veio ao canto certo! Temos o maior teatro ao ar livre do mundo, em Nova Jerusalém, onde é encenada a Paixão de Cristo mais conhecida e famosa do Brasil, e a maior casa de shows da América Latina, e, pasmem, ainda consideramos ela pequena... Sério! Também temos o jornal mais antigo da América Latina, o Diário de Pernambuco, e a emissora de rádio mais antiga, a Rádio Clube. E ter uma rádio com o modesto slogan que diz: Pernambuco falando Para o MUNDO. Temos uma das melhores universidades do Brasil, com o destaque para a física, medicina e informática!

Ser pernambucano é quase um "way of life", é um meio de vida, é vim de onde Judas perdeu as botas pra comer bolo de rolo, é comer brigadeiro e descobrir que é um invenção pernambucana. É ter o bolo de noiva, o bolo Souza Leão, ter o Pé-de-moleque, tapioca, buchada, sarapatel...

Ser pernambucano é ter um som próprio. É ouvir uma música onde estiver e saber que é daqui, é ter Nação Zumbi, Mundo Livre S/A, China, Maciel Melo, Petrucio Amorim, Lenine e muitos outros... É ser a terra de Chico Science, é saber cantar o hino em todos os ritmos, é curtir a ciranda de Lia, a rabeca de Mestre Salú, saber a diferença entre o maracatu de baque solto e baque virado, é ter um frevo rasgado independente da época do ano. É ter um som único, que muitas vezes é esquecido pela população, é ter um Abril Pro Rock todos os anos e não de 4 em 4 anos.

É ter o pior time do mundo, que pra nós é um orgulho heheheh, é ter o Sport, o Santa Cruz e o Náutico unidos em brigas. É ver os torcedores desses times unidos em uma mesa de bar sem grandes discussões, ao menos enquanto não falarem de futebol.

Mas, nem tudo são flores.

Pernambuco se envergonha com casos como o de Alcides, um jovem que tirou o primeiro lugar da rede pública no vestibular de Biomedicina que foi assassinado por não saber dizer onde o vizinho estava. Um vida cheia de realizações tirada por um motivo banal. A capital, Recife, cidade de onde eu escrevo, já foi tida como uma das cidades mais violentas do Brasil, e ainda temos muitos casos de violência contra a mulher. Houve casos, também, que chocaram o país como o de Maria Eduarda e Tarcila Gusmão, meninas que foram mortas na praia, e tantos outros casos não noticiados. Homicídios, estupro, tráfico de drogas... Sim, isso também ocorre aqui, seria uma hipocrisia minha fingir que isso não ocorre.

E ficamos envergonhados com tudo isso. Acompanhamos o PE Body Count assustados ao vermos a velocidade em que os números mudam, nos assustamos mais ainda com casos como o do padrasto que estuprou a enteada deixando a grávida e obrigando aos médicos fazerem o aborto. Nos revoltamos com esses casos, pois sabemos que nada irá acontecer, nos revoltamos pois vem um bispo e excomunga os médicos que salvaram essa menina, pois ela não teria condições de ter esse filho por ser tão nova, apenas 9 anos...

Mas mesmo assim ser religioso, é ter fé que tudo isso vai mudar. É pedir a Nossa Senhora da Conceição que opere um milagre no coração dessas pessoas...

Mas, voltemos a falar de coisas boas, o pernambucano é guerreiro, não desiste mesmo em meio das a diversidades consegue ficar feliz. Gostaria de contar uma história que prova isso e ela aconteceu comigo e outros 84 pernambucanos.
Fomos a Brasília, agora a terra de outro pernambucano, o Lula, para participarmos do Fórum Mundial de Educação Profissional e Tecnológica, chegamos com uma noite de antecedência, apesar de termos ido de ônibus. Aqui em Recife haviam prometido a nós que teríamos um alojamento onde ficaríamos com as outras delegações mas seriamos separados em meninos e meninas. Chegado lá, não era esse o quadro que observávamos, estávamos misturados, sem espaço para dormir, sem tomadas, quase que sem lenço e documento. Nós irritamos, protestamos, lutamos, mas nada poderia acontecer pois dependíamos de uma outra pessoa que não estava lá. Ficamos de mãos atadas, até que a nossa professora do coral deu a ideia de mostrarmos as outras delegações que nós eramos mais que isso, que tínhamos força, então fomos cantar as músicas que apresentaríamos no Fórum, como se isso fosse só um aquecimento para o que estava por vir e uma das músicas era uma ciranda e, literalmente, botamos o Minas Tênis Clube para dançar. Depois deste dia, ficamos conhecidos e tínhamos que dividir a atenção de todos com a delegação do Rio Grande do Sul.

O pernambucano transforma tudo em uma festa, nunca está completamente triste. Se não é o Carnaval que está rolando, que por sinal começou aqui desde janeiro, é a páscoa, se não é a páscoa é o São João... Se não é essa é outra festa e se não tem festa a gente inventa!

É isso por hora...

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